sábado, 10 de julho de 2010

Quando a escola é de vidro...
Ruth Rocha
Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.É, no vidro!Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!O vidro dependia da classe em que a gente estudava.Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano.Se não passasse de ano era um horror.Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.Coubesse ou não coubesse.Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até batiam no professor.Ele ficava louco da vida e atarrachava a tampa com força, que era pra não sair mais.A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se respiravam direito...A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física.Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. e na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinha jeito nenhum para Educação Física.Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.E alguns meninos também.Estes eram os mais tristes de todos.Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza!Se agente reclamava?Alguns reclamavam.E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura.Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.Aí não tinha vidro pra botar esse menino.Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...E os professores não gostavam nada disso...Afinal, o Firuli podia ser um mal exemplo pra nós...E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?Mas Dona Demência não era sopa.Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...Já no outro dia a coisa tinha engrossado.Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar as meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros.Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro - já tinha dois fora.E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais dona Demência já estava na janela gritando - SOCORRO! VÂNDALOS! BÀRBAROS!(pra ela bárbaro era xingação).Chamem o Bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina...Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.Então diante disso seu Hermenegildo pensou um pocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...Seu Hermenegildo não se pertubou:- Não tem importância. Agente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...
"...Importante na escola não é só estudar,não só trabalhar, é criar laços de camaradagem!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Informática na educação: realidade ou utopia

É cada vez mais repetitivo dizer que estamos vivendo a era da informação e da comunicação que elimina as barreiras da distância da língua e da cultura e nos conduz a novos processos de produção, a novas formas de diversão, a um novo modo de viver e pensar, agir e interagir. Mas quanto mais veloz e voraz é o avanço tecnológico, maior é o abismo que separa o mundo dos que estão tecnologicamente “ligado” do mundo dos que estão tecnologicamente “desligado”. Enquanto algumas pessoas têm acesso à tecnologia e consequentemente à informação, outras ficam condenadas ao completo e total abandono e isolamento.
Vivemos em um país cheio de contrastes que fazem parte do dia a dia das pessoas. Pobreza e riqueza, alfabetização e analfabetismo. Vemos sendo divulgados lindos projetos que prometem transformar a realidade da educação em nosso país. Propagandas maravilhosas e propostas super modernas. Mas se voltarmos a nossa realidade. As nossas escolas ou ao menos a grande maioria delas! Será que esses projetos na realidade são parte integrante do nosso dia a dia?
A informática na educação é um grande exemplo desse contraste. Mesmo tendo projetos apoiados pelo governo federal, a realidade é que temos escolas que não possuem computadores nem para a parte burocrática , quem dirá um laboratório para que os alunos possam se desenvolver. Sem contar pessoas capacitadas para trabalhar de forma verdadeira a informática na educação e não apenas usar o computador com um recurso para cumprir um “ tempo” com os alunos.
A inclusão digital na educação é um dos projetos que, atualmente, ainda é utópico para a maioria das escolas devido a vários motivos, dentre eles, se destacam a dificuldade na aquisição de equipamentos, a dificuldade na capacitação de seu corpo docente para lidar com essa tecnologia. Os educadores muitas vezes têm a ferramenta e não sabem como usá-la.
Muitos autores destacam que não basta disponibilizar os computadores e ensinar como operá-los, faz necessário realizar capacitação continuada aos educadores, no sentido de desenvolver ferramentas práticas para enriquecimento do conteúdo ministrado em salas e dar assim uma verdadeira utilidade para ele, possibilitando a utilização da inclusão digital para a verdadeira construção do conhecimento.
Outro ponto importante para que haja, efetivamente, a inclusão digital na educação é desenvolvimento de softwares capazes de realmente motivar tanto alunos como professor. Os softwares educacionais devem se adequar as necessidades pedagógicas, baseados na metodologia educacional, facilitando o processo de aprendizagem do conteúdo curricular
Foi realizada entrevista com educadores da rede pública e privada, abrangendo os níveis fundamental e médio, se levantou que o responsável pelo laboratório de informática, na sua maioria eram professores oriundos de outras disciplinas, que foram capacitados ao ensino de informática, mas apenas com operações básicas do computador, o processo de continuidade educacional, entre a tecnologia da informática e o conteúdo ministrado em sala de aula, é intermediado pelo "professor de informática", que apenas utiliza os recursos primários como questionários no editor de texto, pesquisa na internet de determinado conteúdo ou utilizar o Paint do Windows para as aula de artes.
O grande desafio da inclusão digital na educação não se reside apenas na aquisição dos equipamentos e recursos tecnológicos, se faz necessário realizar uma capacitação com o educador, para que o mesmo possa desenvolver, ele próprio, a utilização da informática como ferramenta didática, sem necessitar de intermediários.

Ana Paula Oliveira da Silva

Poema do Educador


Sala -de -aula, o quadro, o giz e as lembranças dos rostos e mentes que por ali passam e passaram...Educar sem dor, educar pelo prazer de transmitir o que aprendeu, educar sem dor, educar pelo prazer de estar com quem vai crescer e escolher seu destino...
Será utopia, será fantasia, gostar de ensinar e de aprender? Será devaneio, nos dias de hoje, querer repartir conhecimentos e, assim, de certa forma, alcançar a imortalidade?
Será que nossa tarefa de nada mais vale perante o saber do computador, será que nossos jovens não querem mais receber valores e a ética da vida, porque a esperteza e o poder estão nas ruas, estão nas esquinas sombrias?
Hoje, pais e filhos se desencontram e reclamam que a escola não os ajuda neste reencontrar.
Hoje, pais e mestres dificilmente se aliam e, assim, fazem nascer mais um conflito em um mundo tão conflitante...
O que fazer para educar sem dor? Que novos caminhos devemos seguir, porque somos mestres e os mestres andam e procuram sempre.
O que fazer para educar sem dor? Que novo olhar devemos ter, porque somos mestres e a cegueira não pode ser nossa companheira, a missão falharia sem o saber, sem o desejo de conhecer.
Em um mundo repleto de questionamentos, talvez só nos reste, educadores que somos, aprender de novo o que é ensinar, sendo autênticos perante os mistérios desta era, tentando conhecer este aluno novo, que não recebe incentivo da vida para ser, apenas para ter.
Ser educa-dor é, talvez, ser útil de um novo jeito, é estar preparado para responder, antes da informação, qualquer pergunta que ensine crianças e jovens a serem mais humanos, pois de nada vale o saber se eu não aprender como usá-lo para o bem.
Ser educa-dor, hoje, talvez seja abandonar o plano de aula, se a realidade do sentimento estiver latente nas carteiras, é cuidar primeiro, é dar espaço, é ouvir para depois ensinar.
De repente, não é mais possível educar sem dor, sem ter que lidar com muitos obstáculos, mas é esta a nossa missão e ela já mora ao lado da coragem há muito tempo. Sempre foi assim o nosso caminhar...
De repente, está faltando uma aliança com o afeto, com a cumplicidade, com a troca e com a fé. E, neste momento, só o homem é capaz de interagir, superando a máquina, o livro e a corrupção.
Hoje, o papel do mestre é muito mais importante que antes. A sua presença é ainda mais necessária, porque "eles", crianças e jovens, nos chegam já descrentes da humanidade e de seus próprios direitos de viver com dignidade...
Sala -de -aula, o quadro, o giz e as lembranças dos rostos e mentes que por ali passam e passaram. A estrada ficou mais difícil e mais do que nunca o educador é um eterno aprendiz!

Elisabeth Salgado.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Escola

Escola é
... o lugar que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é sobretudo, gente
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente,
O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um se comporte
Como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”
Nada de conviver com as pessoas e depois,
Descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede,Indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade,É criar ambiente de camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Ora é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil!Estudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.(Paulo Freire)